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Diretrizes Baseadas em Evidências para o Manejo das Úlceras Venosas de Perna

As úlceras venosas de perna (UVPs) representam um problema de saúde significativo, com impactos sociais e econômicos expressivos. Estima-se que sua prevalência varie entre 0,06% e 2% da população, sendo responsáveis por até 80% de todas as úlceras de perna. Além disso, apresentam uma alta taxa de recorrência, entre 50% e 70% em até seis meses após a cicatrização.

Diante desse cenário, a Society for Vascular Surgery (SVS) e o American Venous Forum (AVF) desenvolveram diretrizes clínicas baseadas em evidências para padronizar e otimizar o tratamento dessas lesões.


A História das Úlceras Venosas

As úlceras venosas são conhecidas desde a antiguidade. Hipócrates e Galeno acreditavam que essas lesões deveriam ser mantidas abertas para eliminar "humores ruins" do corpo. Séculos depois, médicos como Ambroise Paré e Richard Wiseman começaram a reconhecer a importância do debridamento e da compressão no tratamento dessas lesões.

Já no século XX, cirurgiões como John Homans desenvolveram técnicas para reduzir a hipertensão venosa, incluindo a remoção de veias perfurantes incompetentes—abordagem que ainda hoje fundamenta muitos dos tratamentos cirúrgicos.


As Diretrizes Atuais para o Manejo das Úlceras Venosas

As novas diretrizes da SVS e do AVF foram desenvolvidas com o objetivo de reduzir a incidência de úlceras venosas em 50% na próxima década. Para isso, um painel de especialistas revisou as melhores evidências científicas disponíveis, destacando seis pilares essenciais no tratamento das UVPs:


  1. Diagnóstico: Deve ser preciso e baseado na avaliação clínica, ultrassonografia Doppler venosa e outras ferramentas diagnósticas.

  2. Compressão: O uso de bandagens e meias compressivas continua sendo a principal estratégia terapêutica para promover a cicatrização.

  3. Cuidados com a Ferida: Incluem limpeza adequada, escolha de curativos avançados e, em alguns casos, o uso de enxertos cutâneos.

  4. Tratamento Cirúrgico e Endovascular: Procedimentos como escleroterapia, ablação térmica e correção de obstruções venosas são indicados para reduzir a hipertensão venosa crônica.

  5. Abordagens Complementares: Terapias adjuvantes, como fisioterapia para melhorar a mobilidade do tornozelo e fortalecer a bomba muscular da panturrilha, podem otimizar a resposta ao tratamento.

  6. Prevenção: Estratégias de longo prazo são fundamentais para evitar a progressão da insuficiência venosa crônica de estágios iniciais (CEAP C4) para fases mais graves (CEAP C6).


Impacto Econômico e a Importância da Abordagem Multidisciplinar

O tratamento das úlceras venosas envolve custos elevados. Nos Estados Unidos, estima-se que o custo anual por paciente varie entre US$ 10.000 e US$ 12.000, representando cerca de 1% dos orçamentos de saúde de alguns países europeus.

Além dos custos diretos, há impactos indiretos, como perda de produtividade, despesas com transporte e aposentadorias precoces. Por isso, um manejo multidisciplinar, envolvendo médicos clínicos, cirurgiões vasculares, dermatologistas, enfermeiros e fisioterapeutas, é essencial para melhorar os desfechos clínicos.


Conclusão

O manejo das úlceras venosas de perna exige uma abordagem baseada em evidências, com foco na compressão, no cuidado adequado das feridas e na correção da hipertensão venosa. As novas diretrizes da Society for Vascular Surgery e do American Venous Forum representam um avanço importante para padronizar o tratamento e reduzir as taxas de recorrência dessas lesões debilitantes.


📌 Referência:O’Donnell TF Jr, Passman MA. Evidence-based clinical practice guidelines of the Society for Vascular Surgery (SVS) and the American Venous Forum (AVF): Management of venous leg ulcers. J Vasc Surg. 2014;60(2S):1S-2S. DOI: 10.1016/j.jvs.2014.04.058.

 
 
 

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