Diretrizes para o Manejo das Úlceras Venosas: Consenso da Society for Vascular Surgery e American Venous Forum
- Bianca de Miranda
- 12 de mar.
- 3 min de leitura
As úlceras venosas dos membros inferiores representam um grande desafio clínico, afetando milhões de pessoas em todo o mundo e gerando altos custos para os sistemas de saúde. Estudos mostram que 70% das úlceras crônicas de perna são de origem venosa, com uma prevalência que pode atingir 2% da população adulta.
Diante desse cenário, a Society for Vascular Surgery (SVS) e o American Venous Forum (AVF) desenvolveram diretrizes baseadas em evidências para padronizar e otimizar o tratamento dessas lesões.
Diagnóstico das Úlceras Venosas
As diretrizes recomendam que todo paciente com suspeita de úlcera venosa passe por uma avaliação clínica detalhada e exames complementares, incluindo:
✔ Ultrassonografia Doppler venosa: método padrão para identificar refluxo e obstrução venosa.
✔ Índice tornozelo-braquial (ITB): essencial para descartar arteriopatia associada.
✔ Biópsia da úlcera: recomendada apenas para lesões atípicas ou de cicatrização prolongada.
A classificação CEAP (Clínica, Etiologia, Anatomia e Fisiopatologia) deve ser utilizada para estratificar a gravidade da insuficiência venosa crônica.
Tratamento Baseado em Evidências
O tratamento das úlceras venosas se baseia em três pilares principais:
1. Terapia Compressiva
A compressão é o tratamento primário para cicatrização das úlceras venosas, devendo ser utilizada em todos os pacientes sem contraindicação arterial significativa. As diretrizes recomendam:
✔ Bandagens multicamadas (4LB) como primeira escolha para acelerar a cicatrização.
✔ Meias de compressão elástica (30-40 mmHg) após a cicatrização para reduzir a recorrência.
✔ Compressão pneumática intermitente (CPI) como alternativa para pacientes intolerantes à compressão convencional.
2. Cuidados com a Ferida
Os princípios fundamentais incluem:
✔ Limpeza regular com solução neutra, evitando agentes citotóxicos.
✔ Debridamento mecânico ou enzimático, essencial para remoção de tecido desvitalizado.
✔ Uso de curativos avançados, como espumas e hidrocoloides, para manter o leito da ferida úmido e otimizar a cicatrização.
A terapia com enxertos cutâneos e substitutos dérmicos pode ser considerada para úlceras extensas ou de difícil cicatrização.
3. Intervenções Cirúrgicas e Endovasculares
O tratamento cirúrgico deve ser indicado em pacientes com refluxo venoso significativo ou obstruções venosas crônicas que dificultam a cicatrização. As principais recomendações incluem:
✔ Ablação térmica endovenosa (laser ou radiofrequência) para refluxo da veia safena magna ou parva.
✔ Escleroterapia guiada por ultrassom para tratar veias perfurantes incompetentes.
✔ Stents venosos para tratar obstruções da veia ilíaca ou veia cava inferior.
Prevenção da Recorrência
A prevenção da recorrência das úlceras venosas exige um plano de acompanhamento contínuo, incluindo:
✔ Uso de meias de compressão diárias (30-40 mmHg).
✔ Elevação das pernas sempre que possível para reduzir a hipertensão venosa.
✔ Tratamento precoce do refluxo venoso, quando identificado.
✔ Exercícios para fortalecimento da bomba muscular da panturrilha.
Conclusão
As úlceras venosas são uma condição complexa que exige um manejo baseado em evidências para otimizar a cicatrização e prevenir recorrências. As diretrizes da Society for Vascular Surgery e do American Venous Forum representam um avanço significativo na padronização do tratamento dessas lesões, garantindo melhores desfechos para os pacientes.
📌 Referência:O’Donnell TF Jr, Passman MA, Marston WA, Ennis WJ, Dalsing M, Kistner RL, Lurie F, Henke PK, Gloviczki ML, Eklöf BG, Stoughton J, Raju S, Shortell CK, Raffetto JD, Partsch H, Pounds LC, Cummings ME, Gillespie DL, McLafferty RB, Murad MH, Wakefield TW, Gloviczki P. Management of venous leg ulcers: Clinical practice guidelines of the Society for Vascular Surgery and the American Venous Forum. J Vasc Surg. 2014;60(2S):3S-59S. DOI: 10.1016/j.jvs.2014.04.049.

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